"O homem mais feliz do mundo poderia usar o Espelho de Ojesed como um espelho normal, ou seja, ele olharia e se veria exatamente como é, [...] ele mostra-nos nada mais nem menos do que o desejo mais íntimo, mais desesperado de nossos corações[...]
Porém, o espelho não nos dá nem o conhecimento nem a verdade. Já houve homens que definharam diante dele, fascinados pelo que viram, ou enlouqueceram sem saber se o que o espelho mostrava era real ou sequer possível[...]Peço que não volte a procurá-lo. Não faz bem viver sonhando e se esquecer de viver[...]"
(J.K. Rowling)
Porém, o espelho não nos dá nem o conhecimento nem a verdade. Já houve homens que definharam diante dele, fascinados pelo que viram, ou enlouqueceram sem saber se o que o espelho mostrava era real ou sequer possível[...]Peço que não volte a procurá-lo. Não faz bem viver sonhando e se esquecer de viver[...]"
(J.K. Rowling)
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Gestação
Sob explicações da razão
Permanece o Tempo em gestação.
Um feto desprotegido
Que ansioso por abrigo
Foi quase abortado;
Em efeito do clamor antigo
Estar comigo
Torna-se estranho estado...
Sob tumultuosa reação
Permanece ansioso o embrião
E a lembrança do sentimento
Torna-se a placenta do sofrimento.
Nadando no líquido amniótico
Sem nenhum esteriótipo
Estão os venenos,
As poções,
Os desejos...
Nadar enquanto há tempo
Sorrir enquanto há sofrimento
Matar enquanto há tempo
Ferir enquanto há sentimento.
Afogando no líquido amniótico
Na falta de esteriótipo
Encontra-se a felicidade;
Repleto de agonia
Embebido na anestesia
O tempo pariu a saudade...
Rafael Casal / 20 de Fevereiro de 2006
(Texto antigo, simples, conciso, ainda pouco trabalhado, com uso de pouca técnica, mas que traduz um pouco do meu momento)
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Página em branco
Só mesmo o vazio preenche os sulcos desenhados.
Se eu fui, deveras, avisado?
- Ora, é claro! E até mais de uma vez,
Mas a minha surdez,
Esta libertina e iníqua surdez
(Que, volta e meia, em surdina
Confunde-se com minha nudez)
Num acesso de lucidez
Não me deixou perceber o que era claro:
O rangido do atrito agressor
No papel, derramava-se em dor
Não em amor,
Porque, além da noção de favor,
Faltava o necessário preparo,
A exigida coragem para sair do lugar de conforto.
Não, eu não me comparo!
Sei que é difícil abrir mão do amparo,
É mais cômodo não se impor
Porque, de certo, amor não pode ser amor,
Quando existe sobrecarga de dor
Quando, para a caneta, não existe reparo.
Se eu fui, deveras, avisado?
- Ora, é claro! E até mais de uma vez,
Mas a minha surdez,
Esta libertina e iníqua surdez
(Que, volta e meia, em surdina
Confunde-se com minha nudez)
Num acesso de lucidez
Não me deixou perceber o que era claro:
O rangido do atrito agressor
No papel, derramava-se em dor
Não em amor,
Porque, além da noção de favor,
Faltava o necessário preparo,
A exigida coragem para sair do lugar de conforto.
Não, eu não me comparo!
Sei que é difícil abrir mão do amparo,
É mais cômodo não se impor
Porque, de certo, amor não pode ser amor,
Quando existe sobrecarga de dor
Quando, para a caneta, não existe reparo.
[A esta parte não cabem rimas ou frases de efeito. Talvez, quem sabe, os versos não consigam comportar os gritos inaudíveis e os anseios sobre os quais preciso discorrer entre as estrofes do poema. Usar as palavras, já que me falta a voz para bradar as verdades que não consigo articular em vocábulos e fonemas. Talvez os olhares de pesar embebidos em nostalgia não possam ser resumidos em metáforas e eufemismos sadios, porque, em síntese, precisam ser entendidos com clareza e objetividade. Não devem restar dúvidas, ou mesmo divergências mal-resolvidas. Na verdade, não deve restar nada que não possa ser explicado aos próprios desejos e esperanças. Porque é assim que tem que ser. Talvez eu não seja capaz de escrever de forma concisa as reflexões que me tomaram dias escuros e noites em claro. Talvez não seja justo dizer em seis ou sete palavras o produto de horas de sofrimento e choros ruminados e ruminados outra vez. E talvez eu não precise de nada mais de que muitos “talvez” para dizer tudo que eu quero e preciso dizer. Porque talvez, de fato, sobrem linhas no fim da página que não tenham sido danificadas, rasuradas, rabiscadas ou estejam com defeito e ainda me seja reservado o direito de ter mais do que
.]
Sinto à pele as depressões formadas.
Pois o bico seco da arma agressora
(Que, por mal ou bem, já se fora)
Como espada afiada,
Dantesca e envenenada,
Deixou sua marca invasora,
Neutra, alva e desonesta.
Por que à pele?
- Porque é o único sentido que me resta.
Afinal, acabou-se a festa,
Acabou todo o vício de escrever
Sem querer,
Poder,
Ou mesmo sabê-lo fazer.
Acabou a chance de massagear o ego
E, por isso, hoje estou cego.
Não! Eu não nego!
É por não querer enxergar o que não me cabe
Pois antes que acabe
- Antes que eu morra! -
Prefiro assumir tal face impostora
E abster-me deste sádico prazer:
Ver o que eu não posso ver,
Assumir culpas manifestas
E mentiras modestas sobre as quais não tenho dever.
Afinal, deveria eu imaginar o engano?
Como poderia eu saber
Que todo aquele discurso insano
Não passava de um desejo leviano
Que se perdeu no vácuo interior da arma utilizada?
- Pois bem, fugiu de minha perspicácia intuitiva
E, na inocência infantil das tentativas,
A arma desesperada e cativa
Deixou em carne viva
Da página, a alma faminta.
Tudo porque do vácuo só emanava o frio
O silêncio e o vazio,
No vácuo não existia tinta!
De fato, [Antes que eu minta]
No vácuo não existia nada.
Não existia absolutamente nada.
E, ao findar da loucura, no papel alvacento,
Ficou a marca impura do insensato divertimento
- Muda, invisível e sem reconhecimento -
Que, agora, por merecimento,
É página virada.
A arma desesperada e cativa
Deixou em carne viva
Da página, a alma faminta.
Tudo porque do vácuo só emanava o frio
O silêncio e o vazio,
No vácuo não existia tinta!
De fato, [Antes que eu minta]
No vácuo não existia nada.
Não existia absolutamente nada.
E, ao findar da loucura, no papel alvacento,
Ficou a marca impura do insensato divertimento
- Muda, invisível e sem reconhecimento -
Que, agora, por merecimento,
É página virada.
Rafael Casal / 04 de Janeiro de 2011
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