Outra vez? Ora, pois que ele está acordando. Mas tinha que ser de tão umbrosa vontade?
- Irrequieta pergunta a se fazer -
Sim, ele está acordando.
Já posso ouvir os rugidos do seu despertar. Já posso sentir o seu movimento e suas garras a arranhar-me as entranhas. De que me valeria agora entoar qualquer canção de ninar? - De nada, muito obviamente.
Foi-se o sono e a paz. Foi-se a tranquilidade do nada. A leveza da ausência.
Ele está acordando.
Fato.
Ponto.
(E agora preparar-me-ei para tal momento)
Ele está acordando.
Não por quem, outrora, despertara. Não por quem, há tempos, rasgara-me o juízo e corroera-me a sanidade. Mas é a mesma ânsia de vida. De liberdade. A mesma vontade louca de explodir sua prisão ácida e ganhar o vácuo das linhas tênues do universo próprio de mim. A ânsia de sufocar-se em seus instintos mais grotescos e planar por entre os símbolos ilógicos de suas íntimas fugas.
(A mesma necessidade de si mesmo).
O que tinha eu a fazer face a tão invasivo levantar? - Apenas o que de certo continha a minha capacidade incipiente: Observei os fatos. Filtrei as certezas. (Desprezei as absolutas e retive as infundadas). E a tal convicção entreguei-me: Ele está acordando. Mas necessito fazer um breve esclarescimento acerca: Trata-se de desejos da mesma natureza e de intensidades díspares. A mesma ânsia em graus distintos de insanidade. - O rodízio de posições permanece constante. Muda-se o objeto e a capacidade deste de causar respostas espásticas, mas persiste a essência da razão motivadora.
Ele está acordando.
Posso sentir seu bafo quente e fétido a irritar-me a mucosa. Cheio de seus costumes histéricos e intempestividade requerida. Ele se move. Remexe-se sobre suas próprias dúvidas e inquietudes. Ele se retorce sobre si mesmo, agônico a cada palavra. Contrai-se a cada simples lembrança, como um corpo às vésperas de um ataque tetânico. Basta a voz. A imagem. Ou o toque. E lá está ele, a inchar-se de sede e fome de vazio.
A voz.
A imagem.
Ou o toque.
E lá está ele a avisar-me que muito em breve serei outra vez abrigo de um universo que não cabe em mim. A avisar-me que ele está quase em vigília e que a insônia (outra vez) é o que me resta.
A voz.
A imagem.
Ou o toque.
E lá está ele a avisar-me que muito em breve serei apenas ácido e restos de mucosa sangrando.
Ácido e restos de mucosa sangrando.
Rafael Casal / 02 de Novembro de 2009
Percebe-se o quão intenso és no sentimento, talvez um típipo passional que permite-se ao encanto e às necessidades do próprio sentimento.
ResponderExcluirGostei do tom do blog, poesia e literatura voraz aqui!
És um cronista da atualidade, abraço! e te sigo.
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