"O homem mais feliz do mundo poderia usar o Espelho de Ojesed como um espelho normal, ou seja, ele olharia e se veria exatamente como é, [...] ele mostra-nos nada mais nem menos do que o desejo mais íntimo, mais desesperado de nossos corações[...]
Porém, o espelho não nos dá nem o conhecimento nem a verdade. Já houve homens que definharam diante dele, fascinados pelo que viram, ou enlouqueceram sem saber se o que o espelho mostrava era real ou sequer possível[...]Peço que não volte a procurá-lo. Não faz bem viver sonhando e se esquecer de viver[...]"

(J.K. Rowling)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Mar de sangue



Banhar-me neste teu carmim envolvente
Nas baixas frequências de tua aquarela
E quando nela,
Sem cautela,
Impregnar-me, enfim, de sua textura em lama,
Que me chama!
Que me leva ao infinto de sua densidade.
Sim! - É verdade
Que a felicidade
Traspassa este véu de colóide escarlate;
Translada em luz-fogo
Este jogo,
O todo
E as partes;
(Mesmo que o todo seja teu imo universo
As partes, o inverso do inverso,
Ou mesmo que - em surdina - a mate.)
Sim! - É um limite sem par
Mas de que vale não mergulhar?
- Ora, é claro que não nos cabe!
Se este mar, como você sabe,
É o fogo-mar,
Jogo-amar,
A essência primitiva da qual se gabe
Até um pobre e imundo diabo
Que acaba - como eu sempre acabo! -
De seu próprio calor, dando cabo
Neste húmus ignescente.
Vem!
Não se isente!
Submergir neste lodo hoje é bem mais que urgente!
Vem!
Não se acovarde!
Antes que o medo
- Em segredo -
Faça-te acreditar que é mui cedo,
Quando, de certo, seja muito tarde.
Não vale demora!
É chegada a hora
De ir embora,
De, sem medo do quanto eu claudico,
Entregar-se a este limo impudico
Porque na margem, ora, é claro: eu não fico!
Na margem todo tempo é perdido
Todo passo não dado é um fracasso rendido;
Na margem, tudo é aflitiva espera.
- E quem me dera!
Que a dita espera
Fosse uma boca em vermillus quente
Boca em vermillus-batom
Apenas espectro-batom,
(Pouco importa, de fato, o tom)
Batom-vermillus borrado
Repleto de gracejo e pecado;
Mar de fogo concupiscente
Desejo-larva de virilidade imponente
O emblema-cor do mundo elevado.
Na margem não fico!
É fato
Que, como de tudo que me é imediato,
Deste mergulho não abdico
Não me abstenho desta energia lodenta!
Vem!
Tenta!
Desenha-te em frases de amarelo e magenta.
Traceja-me em linhas de combate instintivo
Para que eu tenha sempre comigo
- Seguro do que agora digo
E liberto do implicado perigo -
A consciência de que ainda vivo.
Vem!
Seja Marte-Senhor!
Perde-te em meu corpo revestido de cor
Em curvas inundadas de ardor,
Na pele que se continua em mangue.
Enxerga teus próprios sentidos em mim
E afoga-nos sedentos, por fim,
Neste mangue-carmim,
Vermelho-amor,
Espelho-sangue.


Rafael Casal / 11 de Dezembro de 2009


Nenhum comentário:

Postar um comentário