"O homem mais feliz do mundo poderia usar o Espelho de Ojesed como um espelho normal, ou seja, ele olharia e se veria exatamente como é, [...] ele mostra-nos nada mais nem menos do que o desejo mais íntimo, mais desesperado de nossos corações[...]
Porém, o espelho não nos dá nem o conhecimento nem a verdade. Já houve homens que definharam diante dele, fascinados pelo que viram, ou enlouqueceram sem saber se o que o espelho mostrava era real ou sequer possível[...]Peço que não volte a procurá-lo. Não faz bem viver sonhando e se esquecer de viver[...]"

(J.K. Rowling)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Dia de Sol


E, enfim, você chegou.


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Realidades transfiguradas invadem meu campo de imaginação quando penso no martírio de angústias que me foi o longo período em que estiveras distante. Sim, eu esperei por você durante muito tempo. Foram dias e dias recluso em minha própria loucura, perdido em verdades e mentiras íntimas; sonhos e realidades que já não distinguiam-se em seus limites tênues. Horas a fio tentando projetar com cuidado o momento exato de nosso encontro. Segundos intermináveis, em que absolutamente nada mais me parecia convidativo, senão a imagem difusa que tinha inventado de nosso futuro perfeito.


Onde estive? - Trata-se de uma boa pergunta. Acredito eu que perdido entre meus amores pseudo-concretos, na busca excrucitante por nós mesmos. Na procura por qualquer indício de sua existência. Na interminável espera de apenas um único sinal de realidade. Um sinal de que a paciência era válida, de que não tardaria a chegar o meu tão prometido amor verdadeiro.


De fato, muitos foram os momentos aterrorizados em que nada me era mais alucinante do que a idéia de desistir e me entregar, de forma definitiva, à consciência ilícita de que eu, simplesmente, não merecia. Entregar-me à certeza venéfica de que o futuro não passava de uma ilusão forjada por mim como mecanismo de fuga, uma maneira de negar minha condição de abandono e mortificação lenta e progressiva. A certeza irresoluta de que a felicidade era uma invenção ridícula.


Ridícula e infantil. Como sempre me pareceu tudo aquilo que não fosse parte efetiva do mundo concreto a que, por hora, estamos tão arraigados. Sim, ridícula. Mas valeria à pena duvidar de tamanha esperança? - De certo, que não.


Imagino que não me era direito duvidar dos verdadeiros sentimentos e de suas implicações práticas. E por isso, todas as vezes em que fui assaltado pela violada vontade do não-viver, eu preferi embeber-me da inquieta dúvida de sua existência. Mantive-me resignado em minhas necessidades. E mesmo que fosse tudo uma grande mentira, que tudo não passasse de uma promessa ilegítima e perniciosa, negá-la era uma realidade da qual escolhi não me apoderar.


Grande mentira? - Que fosse. Não estava em condições de rejeitar sequer uma farsa. E acreditei nela com todas as energias que poderia dispender na situação. Porque sempre fora mais fácil me enganar com verdades pouco questionadas. Sempre fora mais cômodo me convencer de que uma mentira dita e pensada repetida vezes, torna-se uma verdade fatídica. Sempre fora mais ingênuo fingir que acreditava nas minhas próprias mentiras.


Ora, eu apenas sentia. Não só porque queria sentir. Não só porque era próprio e lídimo de minha natureza humana (e entenda-se aqui o verdadeiro sentido da palavra). Mas porque sempre quis mesmo acreditar que tanta dor e tanto problema não seria em vão. Acreditava porque, no fim de todas as certezas, no mais profundo e hermético limite do eu, sobrevive a noção instintiva de que existe um motivo de ser. Existe uma razão intuitiva que diz "Não desista".


[Necessidade máxima de justificar-se a si mesmo e reconhecer a representação valorativa da resignação]


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Raios de luz invadiram minha janela. Despertei com o calor morno salpicando meu rosto de saudades ainda não sentidas. Pude perceber um leve ardor a corroer-me as loucuras. Os sentimentos nus, sem defesas, sem proteção, reclamavam da pele exposta. Da pele. Do corpo. Do espírito. Reclamavam a ausência de tudo que não tivera e ainda mais do que viriam a ter. Quando abri os olhos e tomei consciência de mim, talvez não de mim, mas de quem fui um dia, coloquei-me a contemplar o outro lado do vidro fosco. Tentei focalizar as formas que se projetavam sobre a minha retina, mas não consegui reconhecer nada muito diferente da escuridão da madrugada gélida. Precisava abrir os olhos da alma. Precisava aprender a receber a luz. Certamente tanto tempo de preparo e espera me roubara a sensibilidade de perceber que tinha chegado o momento que eu aguardei ansioso.


O nosso encontro. Ou melhor, o nosso reencontro. Sim, reencontro. Porque a sensação que tive quando, enfim, tombei com a lúcida certeza de que você tinha chegado, foi irrefutavelmente de que já nos conhecíamos de outros caminhos. Como se estivéssemos todo o tempo nos preparando para este momento tão único em que poderíamos olhar um para o outro, tocar-se mutuamente e sentir que, em realidade, existia uma promessa a ser cumprida. Sentir que todo este tempo de planos e medos não foi perdido. Como se cada segundo que, hoje, dividimos tivesse sido planejado com cuidado já há muito tempo.


Diferente não poderia ser. Porque não se tratava apenas de um encontro de corpos. Não apenas de mais um dia a ser guardado no meu compartimento de memórias secretas. Foi diferente. Foi simplesmente diferente. E, engraçado, já não fomos tomados de assalto por tal diferença, porque, desde o início, desde os planos, antes mesmo do toque efetivo, sabíamos que assim seria. Com você e eu tudo é, foi e sempre será diferente. Explicação? - Ora, muito simples: tratava-se não de um beijo, um abraço, uma dança, mas (e hoje, digo isso com a convicção máxima própria de um poeta livre) do encontro definitivo de almas repartidas.


Ridículo e infantil? - Talvez. Mas, inegavelmente, é real. E, apesar do ainda incipiente convívio, assim como cada instante que compartilhamos, as certezas de que temos um futuro melhor no aguardo de nossa chegada são mais que palpáveis. Um futuro nosso. Só nosso. Só nosso e de mais ninguém. Um único caminho para você e eu. Um único caminho. Um único futuro. Um único destino. E tudo isso porque já não pode ser de outra forma. Porque reconhecemo-nos um no outro. Porque, enfim, estamos conscientes de que somos partes separadas de um único ser. Uma única alma habitando dois corpos.


Impossível - e até mesmo ilógico - não agradecer por todo o bem que você me faz. Por ter transformado minhas madrugadas frias em dias iluminados e cheios de alegria. Por tornar todas as minhas dúvidas e fragilidades em lembranças já sem sentido. E, acima de tudo isso, dos abraços, dos beijos, do carinho e do cuidado, eu devo agradecer pela escolha. Você me escolheu. Você me quis e eu preciso agradecer por você fazer de mim alguém reconhecidamente digno do amor. Por me proporcionar o prazer de sentir a convicção lenitiva de que eu existo.


Gosto de você. Gosto de ficar com você. Do seu sorriso. Do seu cheiro. Do seu beijo. Do seu calor. Gosto de tudo em você. De absolutamente tudo. É isso se deve ao simples fato de que você é a personificação dos meus desejos mais complexos. Você é o tudo e para tudo. O amigo, o amor, o amante... É, de fato, tudo aquilo que me faltava.


O mais perfeito de toda essa conjuntura é saber que valeu à pena a espera. Que todas os segundos sem você antes serão multiplicados e reproduzios em sorrisos sinceros e espontâneos. É tomar como verdade inquestionável a certeza de que tudo que aconteceu até então me preparou para você. Saber que toda dor sentida e todos os erros cometidos (os confessados e os omitidos) me tornaram não o melhor que eu deveria, mas o melhor que eu poderia ser para você. O melhor que eu posso te oferecer. O mais íntimo. O mais sincero. O meu eu, agora também seu.


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Hoje, a consciência ilícita de que não mereço a felicidade já não me atormenta. Consigo ver a luz entrando pela janela e não me assustar. Posso enxergar o futuro através do vidro fosco. Sim, eu consigo. Porque não me faltavam os olhos para enxergar. Não me faltava a alma preparada para o que estava do outro lado da janela. Faltava você para me mostrar que eu posso enxergar. Faltava você para abrir os olhos da minha alma.


E, enfim, você chegou.

E agora, todos os dias são de céu claro. Todos os dias são limpos e livres de quaisquer jugo. Todos os dias são dias de amor e tranquilidade.


Todos os dias são dias de Sol.




Rafael Casal / 19 de Agosto de 2010

(Parte IV de "Confissões pouco trabalhadas")

5 comentários:

  1. óóóó, q liiiindo !
    eu qro um amor desse p miiiiiiiiim !
    =O

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  2. Eu a cada segudinho, que passa no ponteiro do meu relógio me sinto mais feliz! tlvz o meu relogio funcione de uma forma diferente, os segundos, minutos e horas não tem o mesmo ritmo dos demais, o meu tempo é o seu tempo agora! fico feliz quando esta feliz, fico triste quando esta triste, te amo cada vez mais, independente do que aconteca, obrigado vc, por ter aparecido em minha vida e ter se tornado o meu dia de sol e ser tudo oq realmente eu esperava! te amo ;)

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  3. Ai, eu tb quero..
    Vcs são lindos demais!
    E eu estou mt feliz de terem se encontrado!!

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  4. Liiiindoooo!


    Que cuti, gente!


    Amar é tããão booom!


    Que dure muito!

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  5. Aiii, tem como não desejar as mais sinceras felicidades?

    Vcs são lindos e merecem todo o amor que recebem do outro. Adoro vcs! :D

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