Só mesmo o vazio preenche os sulcos desenhados.
Se eu fui, deveras, avisado?
- Ora, é claro! E até mais de uma vez,
Mas a minha surdez,
Esta libertina e iníqua surdez
(Que, volta e meia, em surdina
Confunde-se com minha nudez)
Num acesso de lucidez
Não me deixou perceber o que era claro:
O rangido do atrito agressor
No papel, derramava-se em dor
Não em amor,
Porque, além da noção de favor,
Faltava o necessário preparo,
A exigida coragem para sair do lugar de conforto.
Não, eu não me comparo!
Sei que é difícil abrir mão do amparo,
É mais cômodo não se impor
Porque, de certo, amor não pode ser amor,
Quando existe sobrecarga de dor
Quando, para a caneta, não existe reparo.
Se eu fui, deveras, avisado?
- Ora, é claro! E até mais de uma vez,
Mas a minha surdez,
Esta libertina e iníqua surdez
(Que, volta e meia, em surdina
Confunde-se com minha nudez)
Num acesso de lucidez
Não me deixou perceber o que era claro:
O rangido do atrito agressor
No papel, derramava-se em dor
Não em amor,
Porque, além da noção de favor,
Faltava o necessário preparo,
A exigida coragem para sair do lugar de conforto.
Não, eu não me comparo!
Sei que é difícil abrir mão do amparo,
É mais cômodo não se impor
Porque, de certo, amor não pode ser amor,
Quando existe sobrecarga de dor
Quando, para a caneta, não existe reparo.
[A esta parte não cabem rimas ou frases de efeito. Talvez, quem sabe, os versos não consigam comportar os gritos inaudíveis e os anseios sobre os quais preciso discorrer entre as estrofes do poema. Usar as palavras, já que me falta a voz para bradar as verdades que não consigo articular em vocábulos e fonemas. Talvez os olhares de pesar embebidos em nostalgia não possam ser resumidos em metáforas e eufemismos sadios, porque, em síntese, precisam ser entendidos com clareza e objetividade. Não devem restar dúvidas, ou mesmo divergências mal-resolvidas. Na verdade, não deve restar nada que não possa ser explicado aos próprios desejos e esperanças. Porque é assim que tem que ser. Talvez eu não seja capaz de escrever de forma concisa as reflexões que me tomaram dias escuros e noites em claro. Talvez não seja justo dizer em seis ou sete palavras o produto de horas de sofrimento e choros ruminados e ruminados outra vez. E talvez eu não precise de nada mais de que muitos “talvez” para dizer tudo que eu quero e preciso dizer. Porque talvez, de fato, sobrem linhas no fim da página que não tenham sido danificadas, rasuradas, rabiscadas ou estejam com defeito e ainda me seja reservado o direito de ter mais do que
.]
Sinto à pele as depressões formadas.
Pois o bico seco da arma agressora
(Que, por mal ou bem, já se fora)
Como espada afiada,
Dantesca e envenenada,
Deixou sua marca invasora,
Neutra, alva e desonesta.
Por que à pele?
- Porque é o único sentido que me resta.
Afinal, acabou-se a festa,
Acabou todo o vício de escrever
Sem querer,
Poder,
Ou mesmo sabê-lo fazer.
Acabou a chance de massagear o ego
E, por isso, hoje estou cego.
Não! Eu não nego!
É por não querer enxergar o que não me cabe
Pois antes que acabe
- Antes que eu morra! -
Prefiro assumir tal face impostora
E abster-me deste sádico prazer:
Ver o que eu não posso ver,
Assumir culpas manifestas
E mentiras modestas sobre as quais não tenho dever.
Afinal, deveria eu imaginar o engano?
Como poderia eu saber
Que todo aquele discurso insano
Não passava de um desejo leviano
Que se perdeu no vácuo interior da arma utilizada?
- Pois bem, fugiu de minha perspicácia intuitiva
E, na inocência infantil das tentativas,
A arma desesperada e cativa
Deixou em carne viva
Da página, a alma faminta.
Tudo porque do vácuo só emanava o frio
O silêncio e o vazio,
No vácuo não existia tinta!
De fato, [Antes que eu minta]
No vácuo não existia nada.
Não existia absolutamente nada.
E, ao findar da loucura, no papel alvacento,
Ficou a marca impura do insensato divertimento
- Muda, invisível e sem reconhecimento -
Que, agora, por merecimento,
É página virada.
A arma desesperada e cativa
Deixou em carne viva
Da página, a alma faminta.
Tudo porque do vácuo só emanava o frio
O silêncio e o vazio,
No vácuo não existia tinta!
De fato, [Antes que eu minta]
No vácuo não existia nada.
Não existia absolutamente nada.
E, ao findar da loucura, no papel alvacento,
Ficou a marca impura do insensato divertimento
- Muda, invisível e sem reconhecimento -
Que, agora, por merecimento,
É página virada.
Rafael Casal / 04 de Janeiro de 2011
Querida Alma Magra em Cristo
ResponderExcluirFico feliz em saber que vc se comoveu com meu comentário no blog da Cleycianne.
Quando puder, visite meu blog: http://madremadalena.blogspot.com
Santo Ósculo em seu coração!
Querido Anjo
ResponderExcluirTornei-me a primeira seguidora de seu blog e já estou lhe seguindo no twitter.
Santo Ósculo em seu coração!