Sim. Breve os tímpanos me serão resquícios.
Já posso sentir o delirante torpor da hipóxia a irritar-me os neurônios. Sinto a ausência ébria do ar a colabar-me os bronquíolos. O corpo já está tomado pela acidez lática de minha procura. O que falar então da pele já hipotérmica? - Nada. Não é necessário.
Ah! Quão satisfatória é a descida.
Se você pudesse me acompanhar neste mergulho espástico, sentiria a avidez com que tremo e impulsiono a cabeça um pouco mais fundo. Perceberia na minha ânsia líquida o medo que me faz querer ganhar o infinito destas profundezas gélidas. O medo que me prende e me conduz ao abismo que me aguarda ansioso.
E eu vou ganhá-lo. Percorrê-lo em movimentos amplos e difusos. Até que aos músculos reste a paresia desejada e aos ossos o descanso merecido. Percorrê-lo sedento, para não perder nada do que me foi reservado.
Para que todo este fim de mar seja meu.
Só meu.
Apenas meu e de mais ninguém.
Vou permitir aos pulmões a sorte liquefeita do afogamento. Encharcar meus alvéolos com esta busca impertérrita. E deixar o corpo pesar. Permitir que a descida seja mais rápida e fugaz. Ceder aos apelos da gravidade.
Mais fundo. Cada vez mais fundo. Porque na superfície sobra oxigênio e, para falar a verdade, já estou cansado de respirar com tanta facilidade. Muito mais fundo. Porque é na escassez que se prova a força. É na hipóxia que se pode viver a realidade imagética dos sentimentos supremos.
E eu os quero.
Sim. Breve estarei em apinéia.
Os sons me serão lembranças.
As razões, meras coincidências.
E a consciência um epitélio cúbico simples dilascerado.
Rafael Casal / 20 de Dezembro de 2009
O que eu acho mais interessante é que, para um mesmo fluido em uma gravidade g, a única coisa que realmente importa é a altura da coluna líquida (ou gasosa).
ResponderExcluirExplico-me:a pressão no fundo é a mesma para qualquer formato de recipiente com uma altura h de fluido.
É o fato mais democrático da ciência!